18 abril 2012

País investe em produção de células-tronco!

Pacote anunciado pelo Ministério da Saúde prevê R$ 15 milhões para qualificar oito centros de tecnologia celular.
O Ministério da Saúde anunciou ontem (16) um pacote de R$ 15 milhões para expandir a produção nacional e pesquisa de células-tronco embrionárias e adultas. Hoje, a maior parte das células e dos insumos utilizados em pesquisa é importada. Pesquisadores afirmam, no entanto, que "só dinheiro não ajuda". Eles reclamam da burocracia para a importação e exportação de material e da dificuldade de manter pessoal qualificado em razão dos baixos salários.

Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, R$ 8 milhões serão investidos na reestruturação e qualificação de oito Centros de Tecnologia Celular. Três deles estão em atividade (Curitiba, Salvador e Ribeirão Preto) e cinco estão em construção.

É a primeira vez que o ministério destina verba específica para a melhoria dos centros, segundo Padilha. No pacote anunciado, outros R$ 7 milhões vão para editais de pesquisa que serão abertos ainda neste ano. Padilha afirmou que ideia é que os centros se estruturem para a produção comercial de células-tronco. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já estuda pedidos nesse sentido.

Segundo ele, a prioridade será abastecer o mercado interno. "O que encarece e faz atrasar as pesquisas no Brasil são as importações de células-tronco. Por isso a gente quer suprir o mercado local, seja para as pesquisas, seja para o uso terapêutico." A meta é que o Brasil também exporte essas células. "Isso depende de regulamentações, registros. Mas queremos dotar o País de capacidade para exportar."

Para Lygia da Veiga Pereira, professora associada do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, o valor que cada centro receberá (em torno de R$ 1 milhão) "não é um espetáculo", mas é bem-vindo. "O grande problema que vivemos é com a burocracia. Não dá para continuar perdendo material biológico nos aeroportos porque precisa de um monte de selo", diz ela, que coordena pesquisa com células-tronco embrionárias.

"Ou as células não chegam ou chegam mortas", emenda a também professora da USP Patrícia Beltrão Braga, que estuda células-tronco extraídas da polpa do dente de leite. Ela diz que recentemente perdeu material biológico vindo da Alemanha, que estava numa caixa esterilizada, porque um técnico da Anvisa a abriu sem os cuidados necessários.

Stevens Rehen, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Lance (Laboratório Nacional de Células-Tronco), também se queixa da dificuldade de manter pessoal qualificado nos laboratórios. "Meus pesquisadores ganham R$ 2 mil, R$ 2,5 mil. Quando recebem uma proposta melhor, vão embora."

O secretário de Ciência e Tecnologia do ministério, Carlos Gadelha, reconhece os entraves regulatórios, mas diz que a pasta já está "construindo uma solução". Segundo ele, um projeto-piloto começará a ser desenvolvido em alguns aeroportos brasileiros para agilizar a liberação de material de pesquisa importado.

Doenças negligenciadas - Ontem (16), o Ministério da Saúde também anunciou que vai liberar R$ 20 milhões para a criação de uma Rede de Pesquisa em Doenças Negligenciadas. Também chamadas de doenças em eliminação, elas são causadas por agentes infecciosos ou parasitas, além de serem consideradas endêmicas em populações de baixa renda.

A rede envolve pesquisas sobre nove doenças: Chagas, dengue, esquistossomose, hanseníase, helmintíases, leishmaniose, malária, tracoma e tuberculose. "São duas áreas prioritárias. De um lado, a terapia que utiliza células-tronco na recuperação de órgãos. De outro, uma área negligenciada pelos grandes laboratórios privados", diz Padilha.

O Brasil é considerado líder mundial em pesquisas em doenças negligenciadas. Desde o ano passado, o País passou a ser o produtor mundial do medicamento benzonidazol, para a doença de Chagas. Além do remédio para uso adulto, o Brasil fabrica também a versão pediátrica, única no mundo.

O medicamento específico para crianças evita a interrupção do tratamento, comum por conta da dificuldade de manejo do produto - era preciso cortar o comprimido de adulto em oito pedaços. "A ideia é que, com esse edital, o Brasil seja não só líder no controle das doenças negligenciadas, mas também na produção de mais medicamentos e diagnóstico."
(Folha de São Paulo)
Foto ilustrativa

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