Fundador da Microsoft e hoje o maior financiador particular de iniciativas de saúde no mundo, negocia uma doação à Fiocruz e ao Instituto Butantã para transformar os institutos em uma base para a exportação de vacinas.
Gates confirmou ao jornal Estado que mandou seus técnicos ao Brasil para debater a possibilidade. Ele espera do País as definições de quais vacinas ganhariam prioridade no processo.
O empresário convocou ontem os ministros de Saúde do mundo a lançar a "década da vacinação" e imunizar 10 milhões de crianças até 2020. O mercado de vacinas no mundo chega a mais de US$ 24 bilhões por ano.
O Ministério da Saúde não esconde o entusiasmo com a possibilidade do investimento e confirmou que o primeiro contato entre Gates e o Brasil ocorreu em setembro passado, em Nova York. Na ocasião, ele se reuniu com o então chanceler Celso Amorim. O encontro foi seguido de uma missão enviada pelo americano à Fiocruz e ao Butantã.
"Meu pessoal ficou muito impressionado com a qualidade do trabalho", disse Gates.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que Gates "tem interesse forte na Fiocruz e no apoio à produção de vacinas, principalmente a pneumocócica, e em promover mecanismos de gestão que permitam baixar custos de vacinas".
O ministro não deu mais detalhes, mas afirmou que o próprio presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, vai aos EUA se reunir com a Fundação Bill e Melinda Gates.
Segundo Gates, a negociação depende do que o Brasil quer de suas instituições. "Não há nada fechado de concreto por enquanto. Estamos conversando", explicou. "Queremos um acordo para permitir a exportação de vacina. Aguardamos uma decisão sobre qual vacina o País terá capacidade de produzir ao menor custo mundial." Entre as possibilidades avaliadas está a vacina da febre amarela.
A estratégia de Gates é clara: quer financiar a produção no Brasil de vacinas que entrem no mercado mundial com o menor preço do planeta. Assim, conseguiria, com seus próprios recursos, comprar esse produto mais barato e fazer que chegue aos mais necessitados. Para completar, conseguiria reduzir os custos daquela vacina específica, já que outros laboratórios teriam de reduzir preços para poder competir com o produto brasileiro.
Com uma lógica claramente empresarial, um dos maiores filantropos do mundo insiste que não quer investir em várias produções de vacinas pelo mundo apenas para multiplicar a capacidade produtiva dos países.
"Não queremos que cada país comece a investir na produção de suas próprias vacinas. Isso não seria positivo e não funcionaria. Nosso objetivo é buscar uma vacina a custo baixo", explicou.
Gates se tornou o segundo maior doador de recursos para a OMS, superado apenas pelo governo dos EUA. No total, destinou US$ 220 milhões (R$ 356 milhões), quase 20% do orçamento mundial da entidade para o biênio 2011-2012 e acima de qualquer país europeu e emergente.
Gates deu uma lição a ministros de Saúde de todo o mundo, dando sua versão do que deve ser feito no planeta. Ele pediu que os governos fortaleçam programas de imunização contra doenças infecciosas para salvar 4 milhões de pessoas até 2015 e 10 milhões até 2020.
Ele anunciou que colocará no mercado de cinco a seis novas vacinas para diferentes doenças até 2020. Para ele, todos os governos deveriam ter como meta a imunização de 90% de sua população contra doenças como meningite, pólio e pneumonia.
"Pode ser a coisa mais difícil que já fizemos. Mas a mais importante", concluiu.
(Fonte - O Estado de S. Paulo)
Foto ilustrativa
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