30 setembro 2015

UFF e IOC/Fiocruz avançam na criação de novos tratamentos contra a leucemia.

Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Instituto Oswaldo Cruz IOC/Fiocruz) avançam na criação de novos tratamentos contra a leucemia, um tipo de câncer que atinge as células de defesa do sangue (os chamados glóbulos brancos). Apresentadas em um estudo publicado na revista científica European Journal of Medicinal Chemistry, as moléculas promissoras são capazes de atuar seletivamente sobre as células cancerígenas, com pouco impacto sobre os glóbulos brancos saudáveis – uma característica fundamental para o desenvolvimento de novos medicamentos para esta doença.

“Moléculas com este potencial de ação são chamadas tecnicamente de ‘hits’. Encontrá-las é o primeiro passo para o desenvolvimento de novos fármacos”, afirma o pesquisador Floriano Paes Silva Junior, chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do IOC/Fiocruz e um dos coordenadores do estudo. Ele recorre a uma analogia para explicar o valor da descoberta: “Em inglês, a palavra ‘hit’ significa acerto. É como se, entre dezenas de alternativas, tirássemos um bilhete premiado”, compara.

Formas diferentes da doença
As leucemias incluem diferentes tipos de câncer que afetam os glóbulos brancos do sangue. Segundo Floriano, a variedade de formas de leucemia é um dos motivos por que os pacientes apresentam reações diferentes aos tratamentos. “Com origem em células distintas, cada forma de leucemia apresenta características clínicas específicas, e a resposta aos fármacos também varia”, diz o pesquisador. A chamada leucemia linfoide aguda é o câncer infantil mais comum e, apesar dos avanços no tratamento, ainda é uma causa de morte importante na população com até 18 anos. Quando há acesso à terapia, crianças e adolescentes diagnosticados com a doença têm 80% de chance de sobreviverem. Já entre os adultos, este percentual cai para 65%. Considerando todas as formas de leucemia, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que cerca de 9 mil casos da doença sejam registrados no Brasil em 2014.
Na busca por novos medicamentos para combater a doença, os pesquisadores decidiram criar compostos unindo duas moléculas com atuação já reconhecida na farmacologia. Uma delas faz parte de um grupo de substâncias denominadas quinonas, que são capazes de atacar células cancerígenas. Mais especificamente, as moléculas usadas no trabalho derivam de produtos naturais originalmente extraídos de várias espécies de Ipê e que atualmente podem ser sintetizadas em laboratório. A outra substância é classificada pelos cientistas como um "núcleo privilegiado" e trata-se de uma molécula – pertencente à classe dos triazóis – presente em diversos compostos com efeito benéfico sobre o organismo. 
De acordo com Floriano, embora algumas quinonas já sejam utilizadas em tratamentos contra o câncer, há moléculas deste grupo com alto potencial anticancerígeno que não podem ser administradas aos pacientes porque são tóxicas, causando danos ao organismo. “Considerando as propriedades do grupo triazol, nós pensamos: será que ao juntar estas duas moléculas conseguiremos obter um composto que mantenha a atividade anticancerígena, mas seja menos tóxico? ”, conta o bioquímico.
Substâncias promissoras
A aposta acabou dando certo. Ao todo, 18 compostos foram preparados pelo grupo da UFF coordenado por Fernando de Carvalho da Silva e Vitor Francisco Ferreira. Com o apoio da Plataforma de Bioensaios e Triagem de Fármacos do IOC/Fiocruz, as novas moléculas foram testadas em quatro tipos diferentes de células de leucemia e também em glóbulos brancos saudáveis. Três destas substâncias foram consideradas promissoras para o desenvolvimento de novos fármacos, devido à combinação de duas características desejáveis: a potência para destruir as células malignas e a seletividade para preservar os glóbulos brancos sadios. Os experimentos revelaram que, enquanto uma pequena quantidade de um dos compostos era capaz de matar 50% das células de leucemia, seria necessário usar uma concentração até 20 vezes maior para provocar o mesmo efeito sobre os glóbulos brancos saudáveis. Além disso, estas moléculas apresentaram uma atividade mais pronunciada sobre algumas linhagens específicas de células de leucemia, o que foi considerado uma característica positiva pelos pesquisadores. Uma das substâncias, por exemplo, mostrou-se 19 vezes mais potente sobre células de leucemia linfoide do que sobre aquelas de leucemia mieloide.
“Os resultados corroboram a ideia inicial de que as células cancerígenas com perfis genéticos distintos têm respostas diferentes aos fármacos. Essa seletividade é muito boa para o desenvolvimento de tratamentos, porque quanto mais específica uma terapia, melhor”, ressalta a também autora do estudo Maria Eduarda Oliveira, aluna de mestrado no programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC/Fiocruz.

É difícil prever quanto tempo será necessário para transformar as novas substâncias em medicamentos disponíveis para os pacientes. Mas, de forma geral, são necessários, pelo menos, dez anos de estudos para que uma molécula ‘hit’ chegue até as prateleiras. Na próxima etapa do trabalho, os pesquisadores devem se concentrar em identificar os mecanismos de ação das substâncias no interior das células, além de expandir a avaliação da sua toxicidade. A expectativa dos cientistas é que as moléculas possam se tornar uma alternativa para o tratamento de casos resistentes ou de reincidência da leucemia linfoide aguda, ajudando a reduzir as taxas de mortalidade da doença. 
Fonte IOC/Fiocruz 
Foto ilustrativa

29 setembro 2015

Cientista cria sensor que identifica o câncer antes dos sintomas aparecerem!

Membro do Instituto de Microeletrônica de Madrid há seis anos, a cientista brasiliense Priscila Kosaka, de 35 anos, desenvolveu uma técnica para detecção de câncer que dispensa biópsias e que consegue identificar a doença antes mesmo do aparecimento dos sintomas. O resultado vem do uso de um nano sensor com sensibilidade 10 milhões de vezes maior que a dos métodos dos exames tradicionais em amostras de sangue dos pacientes. A previsão é de que ele esteja no mercado em até dez anos e também seja utilizado no combate a hepatites e Alzheimer.
A pesquisadora explica que o sensor é como um "trampolim muito pequenininho” com anticorpos na superfície. Quando em contato com uma amostra de sangue de uma pessoa com câncer, ele “captura” a partícula diferente e acaba ficando mais pesado. Outras estruturas relacionadas à técnica também fazem com que haja uma mudança de cor das partículas, indicando que o paciente que teve o fluido coletado tem um tumor maligno. A taxa de erro, segundo Priscila, é de 2 a cada 10 mil casos.
“Atualmente não existe nenhuma técnica que permita a detecção de moléculas que estão em concentrações muito baixas e que coexistam com mais de 10 mil espécies de proteínas numa única bioamostra”, afirma. “Nenhuma técnica é capaz de encontrar a ‘agulha no palheiro’. Portanto, existe uma necessidade de tecnologias capazes de registrar moléculas individuais na presença de outras moléculas muito mais abundantes. E o nanosensor que desenvolvi é capaz de fazer isso.”
De acordo com a cientista, novos estudos podem fazer com que o nanosensor também seja usado para identificar a que tipo específico pertenceria uma amostra cancerígena (gastrointestinal ou de pâncreas, por exemplo). Dados da Organização Mundial da Saúde estimam 21,4 milhões de novos casos de câncer em todo o planeta em 2030, com 13,2 milhões de mortes. Há mais de cem tipos da doença, e os mais comuns são de próstata, mama, cólon, reto e pulmão.
Entre os benefícios da técnica desenvolvida por Priscila está o fato de que a identificação pode ocorrer dispensando a biópsia e por meio dos exames rotineiros de check-up. A cientista conta que ainda é necessário que o sensor passe por novas fases de teste. Além disso, ela precisará de financiamento para os estudos. Um dos objetivos da pesquisadora é que o equipamento tenha um custo acessível e assim possa ser adotado amplamente pela população.
“[Estou] Muito feliz, amo o que faço. Consegui um resultado que parecia apenas um sonho há quase seis anos. O que me motivou? Conseguir proporcionar uma melhor qualidade de vida para as pessoas. Quero que o diagnóstico precoce do câncer seja uma realidade em alguns anos”, diz a mulher. “Trabalho em busca de um resultado como esse desde o meu primeiro dia no Bionanomechanics Lab.”
Bacharel em química pela Universidade de Brasília e doutora na área pela Universidade de São Paulo, Priscila é a responsável pelas atividades relacionadas à funcionalização de superfícies do laboratório, além de trabalhar na otimização de estratégias de imobilização de biomoléculas em microcantilevers para biosensing. Ela atua ainda no desenvolvimento de sistemas de nanomecânicos e na combinação de nanotecnologias para o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico altamente sensíveis e específicos e é avaliadora e revisora de projetos europeus para a European Commission desde 2011.
A pesquisadora conta que a descoberta pode ser usada ainda no diagnóstico de hepatite e que pretende estender a técnica a mais doenças, como o Alzheimer. “Em lugar de fazer uma punção na medula espinhal para extrair líquido cefalorraquidiano para o diagnóstico de distúrbios neurológicos, temos sensibilidade suficiente para detectar uma proteína em uma concentração muito baixa no sangue. Assim, o paciente não precisa passar por um exame tão invasivo, pode fazer um simples exame de sangue.”
Benefícios
O oncologista Gustavo Fernandes afirmou apreciar a possibilidade de ver tecnologias do tipo à disposição no dia a dia. "Poder fazer diagnóstico precoce por meio de métodos menos invasivos é muito elegante. Os métodos que temos hoje são muito rudimentares, são muito arcaicos. É um exame físico melhorado em relação ao que se via antes, mas estamos atrás de nódulos, de caroços. O paciente continua fazendo uma porção de testes, de exames de imagem."
O médico disse ainda esperar ver como o equipamento poderá ajudar pacientes, já que cada tipo de câncer evolui de uma forma diferente e que mesmo entre tipos iguais há variações  – como as causas, o comportamento no organismo e a agressividade. A única certeza é de que a intervenção precoce é uma aliada no combate à doença.
"A gente fala de brincadeira que todos os tumores que a gente tratava como comuns estão ficando raros. Câncer de mama é comum, mas as características genéticas são tão específicas que você não trata mais de câncer de mama, mas de câncer de mama de categoria tal. Ou seja, se você for apertando, você vai ter uma centena aí de doenças a partir de uma só. É que nem de pulmão, você acaba dividindo em muitos grupos. Tem muitas alterações sendo detectadas, que acaba que sob um mesmo nome tem várias doenças", concluiu. 
Fonte: Una-SUS/G1

Foto: da Net

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